quinta-feira, 24 de setembro de 2015

A ONEDEF repudia os atos que atentam contra os direitos humanos da pessoa com deficiência na área da inclusão e da educação

CARTA DE REPÚDIO N.º 001/2015

Exmo. Sr. Presidente do Congresso Nacional, Senador Renan Calheiros,

Na qualidade de Presidenta da Organização Nacional de Entidades de Pessoas com Deficiência Física (ONEDEF), e em defesa dos Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência de todo país, trago ao Vosso conhecimento – e solicito que chegue ao conhecimento dos demais integrantes desse Parlamento – o duro golpe que as pessoas com deficiência vem sofrendo nos últimos dias, uma vez que em nome do capital vem sendo colocado em risco uma garantia histórica de acesso à educação e também a atual conquista consignada na Lei Brasileira da Inclusão – Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n.º 13.146, de 06,08.2015), de acesso à educação inclusiva, em igualdade de oportunidades.

A ONEDEF é uma entidade de história, com mais de 30 anos de existência, reconhecida em nível nacional e internacional, que já agregou e mobilizou mais de cem entidades de pessoas com deficiência física em todo o Brasil. A ONEDEF sempre participou ativamente do processo de construção da democracia, acompanhando a formulação das leis, das políticas públicas e dos destinos políticos do país, buscando que esses processos se inspirem na plena realização pessoal e social de cada cidadão, Com ou sem deficiência.

Primeiramente, é importante mencionar que a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (CONFENEN) ajuizou perante o Supremo Tribunal Federal a ADI 5357 alegando inconstitucionalidade do §1º do Art. 28 e do caput do Art. 30 da Lei Brasileira de Inclusão (LBI) que garantem a matrícula e condições de permanência dos alunos com deficiência no ambiente escolar.  Seu inconformismo reside no fato de que a LBI proíbe a cobrança de valor adicional na matrícula de pessoas com deficiência.

A referida lei é um expressivo exemplo do exercício da democracia participativa prevista em nossa Constituição Federal.  Tramitou por mais de 15 anos e devido às particularidades e aos acontecimentos desta década e meia teve seu texto construído a varias mãos, numa inédita parceria entre o Congresso Nacional – capitaneado pela Frente Parlamentar de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (FrentePcD) – o Poder Executivo, o Poder Judiciário, o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONADE), juristas, especialistas e sociedade civil.  Seu teor foi discutido em audiências públicas realizadas em todo país, o texto esteve aberto para contribuições durante mais de seis meses no site acessível para pessoas com deficiência “e-democracia” da Câmara dos Deputados, recebeu milhares de propostas populares de alterações. Foi o primeiro Projeto de Lei do Congresso Nacional traduzido para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e foi aprovada por unanimidade em ambas as Casas Legislativas atendendo aos valores universais de Dignidade da Pessoa Humana e aos princípios e garantias constitucionais.

A postura da Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino, colocando o capital acima da dignidade humana, caminha na contramão dos valores que inspiram o Estado Democrático de Direito, sendo um retrocesso social sem precedentes, o que requer providências.

Não bastasse, o Sindicato de Escolas Particulares de Santa Catarina (SINEPE/SC), apoiado pela CONFENEN, lançou recentemente uma Carta Aberta onde de forma grosseira e discriminatória se opõe à educação inclusiva, expondo a limitação das pessoas com deficiência, reforçando os estigmas de incapacidade e invalidez, como se devessem seguir num caminho apartado dos demais da sociedade. 

Por linhas transversas joga a sociedade como um todo contra as pessoas com deficiência, por meio de insinuações de que a inclusão na educação tem um custo cujo valor será diluído nas mensalidades dos demais alunos.  E que a presença da pessoa com deficiência poderá trazer desde atrasos de repasse de conteúdo à situações de agressão física e risco de vida.  Um truculento absurdo!

Na atualidade, é incabível aceitarmos passivamente essa apologia de ódio e a demonstração pública de desapreço à inclusão, com a nítida intenção de depreciar, excluir, discriminar e diminuir a imagem das pessoas com deficiência perante a sociedade, destruindo um trabalho de décadas de inclusão. 

Diante de todo o exposto, solicitamos que além da comunicação neste Parlamento, seja dado conhecimento aos órgãos públicos competentes para as medidas cabíveis, inclusive o Ministério Público Federal, que além de investigar o caso pode ajuizar ação civil pública com pedido de indenização por danos morais causados à coletividade que, com certeza, é abalada em seus ideais de democracia, cidadania, igualdade e solidariedade.

  
CARMEM LÚCIA LOPES FOGAÇA
Presidente da ONEDEF
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...